terça-feira, 8 de dezembro de 2009

CINEMA NOVO - "Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça" é o lema de cineastas que, nos anos 60, se propõem a realizar filmes de autor, baratos, com preocupações sociais e enraizados na cultura brasileira. Vidas secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, é o precursor. Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, e Os fuzis, de Rui Guerra, também pertencem à primeira fase, concentrada na temática rural, que aborda problemas básicos da sociedade brasileira, como a miséria dos camponeses nordestinos. Após o golpe de 64, a abordagem centraliza-se na classe média urbana, como em A falecida, de Leon Hirszman, O desafio, de Paulo César Sarraceni, e A grande cidade, de Carlos Diegues, que imprimem nova dimensão ao cinema nacional. Com Terra em transe (1967), de Glauber Rocha, o Cinema Novo evolui para formas alegóricas, como meio de contornar a censura do Regime Militar. Dessa fase, destacam-se Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade, Brasil ano 2000, de Walter Lima Jr., O bravo guerreiro, de Gustavo Dahl, e Pindorama, de Arnaldo Jabor.

BREVE RELATO SOBRE Glauber Rocha.
Glauber Rocha (1939-1981) é o grande nome do cinema brasileiro. Nasce em Vitória da Conquista, Bahia, e inicia a carreira em Salvador, como crítico de cinema e documentarista, realizando O pátio (1959) e Uma cruz na praça (1960). Com Barravento (1961), é premiado no Festival de Karlovy Vary, na Tchecoslováquia. Deus e o diabo na terra do sol (1964), Terra em transe (1967) e O dragão da maldade contra o santo guerreiro (1969) ganham prêmios no exterior e projetam o Cinema Novo. Nesses filmes predomina uma linguagem nacional e de caráter popular, que se distingue daquela do cinema comercial americano, presente em seus últimos filmes, como Cabeças cortadas (1970), filmado na Espanha, e A idade da terra (1980).

DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL (1964)

Direção: Glauber Rocha Roteiro: Glauber Rocha, Walter Lima Jr., Paulo Gil Soares
Produção: Luiz Paulino dos Santos, Luiz Augusto Mendes
Música Original: Heitor Villa-Lobos
Fotografia: Waldemar Lima Edição: Rafael Justo Valverde
Direção de Arte: Paulo Gil Soares
Figurino: Paulo Gil Soares
País: Brasil
Gênero: Drama

PREMIAÇÕES
Festival de Mar del Plata - Grande Prêmio Latino-Americano
Festival de Acapulco - Prêmio Crítica Mexicana
Prêmios Saci, São Paulo - Saci de Melhor Ator Coadjuvante (Maurício do Valle)

INDICAÇÕES
Festival de Cannes - Indicado à Palma de Ouro (Glauber Rocha)

SINOPSE
No sertão nordestino, vivem Manuel e sua mulher Rosa, camponeses pobres que, explorados, pressionam Moraes, o grande proprietário das terras. Humilhado por este, Manuel mata seu patrão e foge com a mulher. O casal encontra refúgio em Sebastião, uma espécie de 'iluminado', conhecido por 'beato, o Santo', que promete aos pobres o paraíso sobre a terra.
Entretanto, ao vê-lo sacrificar uma criança, Rosa o mata. O casal é, mais uma vez, obrigado a fugir. Ao encontrar o famoso cangaceiro Corisco, este lhes oferece refúgio. Corisco se diz um defensor incansável dos pobres e um inimigo jurado dos ricos. Corisco não invoca Deus, como fazia 'o Santo', mas também viola, mutila, assassina. Manuel compreende, enfim, que Sebastião e Corisco são as duas faces de uma mesma violência, exercida em nome de Deus ou em nome do Diabo. Ele pensa em matar Corisco, mas sua mulher, influenciada por Dadá, esposa do cangaceiro, faz com que ele desista da idéia. É Antônio das Mortes, um mercenário a mando dos coronéis e da Igreja, quem mata Corisco, como teria feito com Sebastião, se Rosa não tivesse se adiantado. Manuel, enfim livre de uma mitologia paralisante, continua a perseguir o seu ideal de que um dia 'a terra será do homem, não de Deus, nem do Diabo'. ..

CRÍTICAS
"Deus e o Diabo na Terra do Sol" é um excelente filme brasileiro. Realizado pelo grande cineasta Glauber Rocha, o filme apresenta o retrato de um segmento da rica cultura brasileira, com ênfase para aspectos delicados como religião, fé, violência e exploração econômica. Embora não tenha ganho prêmios (no Brasil, estreou pouco antes do Golpe de 1964), "Deus e o Diabo na Terra do Sol" foi muito aclamado pela crítica e pelos cineastas presentes no Festival de Cannes, como Fritz Lang e Buñuel. A fotografia de Waldemar Lima é incrivelmente bela. A música de Villa-Lobos é um outro ponto forte do filme. No elenco, os maiores destaques ficam por conta das atuações de Maurício do Valle, Geraldo Del Rey, Yoná Magalhães e Othon Bastos, principalmente dos dois primeiros.

Assista abaixo, um trecho do filme:

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